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  • Foto do escritorDanilo de Albuquerque

O juiz não lê a petição?

Atualizado: 9 de ago. de 2021



Muito se reclama da má vontade do juiz ao receber petições.


“Ah, ele nem lê o que eu escrevo!”


Mas será que não teríamos culpa nisso?


Não é raro que se encontrem petições de 30 páginas, mal escritas, repetitivas, desorganizadas e que se poderiam resumir em poucas linhas.


Agora, pense comigo: se processo judicial é comunicação — seja ela escrita ou oral —, e se conhecemos os casos por meio de narrativas, então é fundamental um domínio linguístico, uma percepção acurada, que bem represente os fatos pela linguagem.


Acredito que o problema da má escrita se deva à proliferação de cursos de Direito no Brasil, voltados ao tecnicismo exagerado, em que não se tem sequer contato com obras fundamentais da Literatura. Se passássemos a ler, por exemplo, Machado de Assis e Graciliano Ramos, mestres da concisão, certamente deixaríamos de enfeitar o texto com palavras inúteis, iríamos direto ao ponto, e as nossas petições seriam não apenas lidas pelos magistrados, mas também apreciadas.


Uma linguagem demasiado formal cansa o leitor, ainda mais quando não se acrescenta nada.


Na próxima peça, em vez de escrever “agente público investido no cargo de policial” (acredite, eu já li isso em memoriais do MP), escreva simplesmente “policial”.


Parece óbvio, não é? Mas o vício de linguagem é assim mesmo: toma conta da nossa escrita sem que o percebamos.


Quantas palavras você poderia cortar sem que o texto perdesse a sua essência? Garanto que muitas. Analise-o com calma, e logo vai me dar razão.


Rebuscamento não tem a ver com estrepolias sintáticas, muito menos com ressurreição de palavras. Isso não passa de retórica, no pior dos sentidos. 


Ah, você não teve tempo de desenvolver sua escrita? Sem problemas. É só optar pelo simples. O estilo de um escritor jamais será criticado por sua simplicidade. E sabe por quê? Porque a simplicidade é amiga da honestidade, e ninguém gosta de ser enganado.


Um abraço, e até a próxima.

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